Ilustração de deepfake
Deepfakes têm se tornado cada vez mais populares com o avanço da IA generativa (Imagem: Vitor Pádua/Tecnoblog)

Deepfake é uma técnica de inteligência artificial que permite criar conteúdos falsos, manipulando fotos, vídeos e áudios usando a tecnologia de redes neurais generativas.

Como suas criações são voltadas para distorcer a realidade, os deepfakes podem causar grandes impactos negativos à sociedade, incluindo a disseminação de informações falsas, violação de dados pessoais e crimes contra a honra alheia.

A melhor forma de se proteger contra deepfakes é reforçar a proteção dos dados sensíveis na internet, especialmente nas redes sociais. Reduzir a exposição de informações privadas dificulta o trabalho de cibercriminosos.

A seguir, saiba o que é e como funciona um deepfake, entenda os riscos envolvidos de seu uso, e veja como se prevenir de falsificações profundas.

Índice

  • O que significa deepfake?
  • Como funciona um deepfake?
    • Como deepfakes replicam de forma fiel movimentos e expressões humanas?
    • Qual é a diferença entre deepfake e IA generativa?
  • Quais são os principais exemplos de deepfake?
  • Como identificar deepfake?
  • Quais são os riscos de deepfakes?
    • Existem formas de se prevenir contra deepfakes?
  • Deepfake é crime no Brasil?
    • É permitido usar deepfake em propaganda eleitoral?
    • O que fazer se alguém criar um deepfake com sua imagem?

O que significa deepfake?

Deepfake é o termo que vem da junção das palavras “deep learning” (“aprendizado profundo”) e “fake” (“falsificação”). Ele se refere a uma técnica que usa inteligência artificial para manipular informações ao criar fotos, vídeos e áudios falsos.

Como funciona um deepfake?

Para criar um deepfake, um aplicativo coleta dados (imagens, vídeos e áudios) de uma determinada pessoa ou objeto e, por meio de algoritmos de deep learning, inspirados no cérebro humano, treina redes neurais artificiais, fazendo com que elas mapeiem movimentos, expressões e até timbres de voz do indivíduo.

Após os treinamentos, as redes neurais tornam-se capazes de sobrepor o rosto de uma pessoa em outras imagens ou vídeos, por exemplo. Ou mesmo replicar a voz do indivíduo-modelo para criar uma fala totalmente nova a partir de um texto escrito.

Os resultados podem até parecer reais, mas foram forjados e manipulados por aplicações de inteligência artificial.

Ilustração da ferramenta de deepfake Swapface
Ilustração da ferramenta de deepfake Swapface (Imagem: Divulgação/Swapface)

Criar deepfakes já foi uma tarefa complexa e mais restrita. Mas com o avanço da IA generativa e a popularização desse tipo de aplicação, qualquer pessoa pode fazer deepfake online por meio de softwares ou serviços como DeepFaceLab ou Faceswap.

Como deepfakes replicam de forma fiel movimentos e expressões humanas?

Treinamentos com dados, técnicas avançadas de deep learning (aprendizado profundo) e redes neurais são os principais responsáveis pelos resultados realistas de deepfakes.

Por meio da tecnologia de aprendizado profundo, as redes neurais são treinadas com grandes bases de dados para identificar padrões de expressões faciais, movimentos e tons de voz humanos. O resultado tende a melhorar quando há mais dados sobre um indivíduo.

Outro fator importante para as criações realistas envolve o uso de Redes Neurais Generativas Adversárias (GANs). Esse tipo de rede neural artificial usa processos de geração e discriminação, otimizando os resultados continuamente até que o agente discriminador não consiga detectar se o produto criado é falso ou real.

Qual é a diferença entre deepfake e IA generativa?

O deepfake é uma técnica que usa inteligência artificial generativa para manipular informações existentes ao criar fotos, vídeos e áudios falsos. Embora deepfakes usem redes neurais em seu mecanismo, eles geralmente se baseiam nas Redes Generativas Adversariais (GANs).

Já o conceito de IA generativa é mais amplo: trata-se de um segmento da inteligência artificial, baseado em algoritmos de deep learning e redes neurais, com capacidade para gerar novos conteúdos (textos, áudios, vídeos, poemas, imagens e até linhas de códigos) a partir de dados de treinamento.

Em resumo: o deepfake é uma das aplicações de IA generativa, mas não representa o seu todo.

Quais são os principais exemplos de deepfake?

Deepfakes podem ser vistos em aplicações positivas e negativas, em áreas como educação, política e entretenimento. Alguns dos principais exemplos de deepfakes englobam:

  • Avatares e modelos virtuais: deepfakes conseguem criar avatares em jogos ou modelos virtuais para simulação de roupas, por exemplo;
  • Memes e entretenimento: deepfakes podem dar luz a paródias de filmes e memes de humor com trocas de rostos, ou serem usados para replicar vozes de cantores e celebridades para fins de entretenimento;
  • Fins educacionais: redes neurais conseguem criar personagens animados que ensinam ou tiram dúvidas de usuários no campo educacional ou instrutivo;
  • Fake news: deepfakes têm sido vistos na área da política, geralmente envolvendo rostos de políticos e figuras históricas em contextos forjados para beneficiar determinado partido ou candidato;
  • Abuso sexual de imagem: criminosos costumam adicionar rostos de famosos em vídeos explícitos ou situações comprometedoras;
  • Propagandas falsas: anúncios falsos têm usado rostos de figuras famosas para induzir consumidores a comprarem determinado produto.

Como identificar deepfake?

Identificar deepfakes pode ser complicado devido aos avanços nos algoritmos, que geram criações cada vez mais realistas. No entanto, algumas características podem indicar que um conteúdo é um deepfake:

  • Falas assíncronas: criações deepfakes podem apresentar falta de sincronia de vozes com o movimento dos lábios;
  • Movimentos robóticos: olhar inexpressivo, movimentos ou expressões faciais bruscas e piscar de olhos repetitivos são características de criações deepfakes;
  • Iluminação não linear: variações de iluminação em determinados frames, que podem até alterar o tom de pele, podem indicar que a criação é um deepfake;
  • Deformações e alterações faciais: dependendo do software utilizado, deepfakes podem apresentar deformações dos rostos em alguns quadros ou alterações bruscas de uma característica física;
  • Marca d’água e rótulos em redes sociais: algumas criações podem carregar a marca d’água do software utilizado, enquanto publicações em redes sociais podem vir com o rótulo “Criado por IA”;
  • Oscilações na voz: tom de voz inconsistente ou mudanças abruptas de timbre podem indicar que o áudio não é real;
  • Ruídos no áudio: ruídos e barulhos externos no áudio, assim como sons abafados, são comuns em áudios criados por inteligência artificial.
Ilustração criada com técnicas de deepfake por aplicação IA
Ilustração criada com técnicas de deepfake por aplicação IA (Imagem: Criada por IA/Freepik)

Quais são os riscos de deepfakes?

O uso ilegal de deepfakes pode infringir diversos pontos previstos na legislação brasileira, além de prejudicar a reputação e imagem alheia. Alguns dos principais riscos que envolvem o uso indevido de deepfakes envolvem:

  • Desinformação e propagação de fake news: deepfakes promovem a disseminação de informações falsas, uma vez que seus conteúdos envolvem a manipulação da realidade;
  • Crimes de difamação e calúnia: muito além do constrangimento da vítima, falsificações profundas podem ser enquadradas como crimes à reputação alheia, dependendo do uso;
  • Violação de privacidade alheia: o uso de deepfakes sem consentimento caracteriza violação de privacidade e dados de terceiros;
  • Bullying e cyberbullying: deepfakes que prejudicam a reputação de uma pessoa podem promover linchamentos virtuais e danos irreparáveis à vítima;
  • Fraudes e golpes: o uso de falsificações profundas facilita a promoção de golpes ou propagandas enganosas por cibercriminosos;
  • Falsificação de identidade: usar dados de biometria de outra pessoa para deepfakes não consentidos podem caracterizar casos de falsificação de identidade.

Existem formas de se prevenir contra deepfakes?

Reforçar a proteção de dados pessoais é uma das principais ações para evitar ser uma vítima de deepfake. Revise as configurações de privacidade de suas redes sociais para evitar que suas fotos e vídeos de alta qualidade sejam acessadas por qualquer pessoa.

Você também deve priorizar veículos de comunicação e canais oficiais de empresas e governos para buscar informações. Essa prática pode confirmar a veracidade de determinado vídeo, áudio ou foto e, por consequência, tende a diminuir a propagação de fake news pelas redes sociais.

Deepfake é crime no Brasil?

Não, uma vez que a prática de deepfake ainda não é tipificada no Código Penal brasileiro. Contudo, o uso ilegal de falsificações profundas pode infringir alguns pontos da legislação, incluindo a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), o que pode render punições no âmbito jurídico.

O uso de deepfakes sem consentimento viola a privacidade e proteção de dados pessoais, como previsto na LGPD. Além disso, artigos jurídicos apontam que deepfakes podem se enquadrar em casos de crimes contra imagem (como difamação e calúnia) ou fraudes de identidade.

Ilustração de martelo do âmbito jurídico
Autoridades brasileiras seguem discutindo formas para regular deepfakes no país (Imagem: Tingey Injury Law Firm/Unsplash)

Vale destacar que há Projetos de Lei em andamento para regulamentar os deepfakes no Brasil. O PL nº 1272/23 busca criminalizar os deepfakes, enquanto o PL nº 5.695/23 prevê a inclusão de deepfakes na Lei Maria da Penha.

Já os Projetos de Lei nº 145/24 e nº 146/24 visam regulamentar o uso de ferramentas de inteligência artificial para fins publicitários, e aumentar a pena de crimes contra honra e de falsa identidade envolvendo deepfakes, respectivamente.

É permitido usar deepfake em propaganda eleitoral?

Não. Em fevereiro de 2024, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proibiu deepfakes durante as campanhas ao atualizar a Resolução nº 23.610/2019. As novas determinações também exigem avisos sobre o uso de inteligência artificial em propagandas eleitorais.

Candidatos(as) que usarem deepfake poderão ter o registro ou mandato cassados. Já autores de publicações com vídeos, fotos ou áudios forjados por IA durante campanhas políticas podem ser multados.

O que fazer se alguém criar um deepfake com sua imagem?

Primeiro, deve-se salvar o deepfake e reunir o máximo de informações possíveis (como autor do post, data e horário) para usá-las como prova. Feito isso, reporte o incidente à rede social responsável pela disseminação do material para a retirada imediata do conteúdo.

Vale também procurar uma delegacia especializada em crimes cibernéticos no seu estado para relatar o caso, além de buscar ajuda de um(a) advogado(a) para mover uma ação judicial referente a infrações previstas na legislação brasileira.

O que é deepfake? Conheça exemplos e entenda os riscos dessa tecnologia