A natureza é uma grande fonte de inspiração para novas ideias na ciência, como comprova a descoberta de um pedaço de pau com 3,77 mil anos que pode ajudar no controle da crise climática. Encontrado em Quebec, no Canadá, o tronco conseguiu manter o dióxido de carbono (CO2), que foi absorvido durante os anos em que a árvore estava viva, praticamente intacto até hoje. Se for possível replicar esse tipo de captura de carbono altamente eficiente, a quantidade de gases do efeito estufa poderá ser reduzida na atmosfera, controlando o aquecimento global.  

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Em mais de 3 mil anos de existência, o pedaço de pau perdeu menos de 5% do CO2 que armazenava em vida, o que é uma taxa excelente. O curioso é que o resultado não está ligada às propriedades desse tipo de madeira, mas ao solo no qual ele foi enterrado. 

Segundo os pesquisadores da Universidade de Maryland, nos EUA, o solo era argiloso e apresentava um nível muito baixo de permeabilidade, o que impediu a liberação do CO2 aprisionado no tronco para a atmosfera. É o que destaca o estudo recém-publicado na revista Science.


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O ciclo de carbono e o tronco de árvores

Antes de seguir, vale entender como as árvores capturam o carbono, um gás poluente do efeito estufa e que está associado ao aumento das temperaturas médias do planeta. Conforme crescem, as plantas naturalmente absorvem o CO2 pelas folhas durante a fotossíntese. Alguns tipos de árvores, como as espécies do gênero Liriodendron, são muito eficazes nesse tipo de armazenamento e podem ajudar ainda mais no combate da crise climática.  

Tronco de árvore canadense conseguiu preservar o carbono que absorveu durante a vida por mais de 3 mil anos e pode ajudar no combate às mudanças climáticas (Imagem: Mark Sherwood/University of Maryland)

No entanto, quando as árvores morrem, entrando em processo de decomposição, esse gás é novamente liberado para a atmosfera. Isso acontece mesmo quando as árvores são enterradas, mas existem algumas exceções, como o pedaço de pau com 3,7 mil anos.

Neste caso, a contenção do CO2 ocorreu pelas características do ambiente em que foi preservado. Com a baixa permeabilidade, o oxigênio chegava em quantidades muito baixas ao tronco, evitando a decomposição. Essas condições também afastaram os fungos e os insetos, decompositores normalmente encontrados no solo.

Apesar dos milhares de anos, “a madeira é boa e sólida — você provavelmente poderia fazer uma peça de mobiliário com ela”, comenta Ning Zeng, professor de Ciências Atmosféricas e Oceânicas da universidade norte-americana, em nota. 

Aposta contra a crise climática

A partir da descoberta, os cientistas planejam projetar grandes cemitérios de madeira, no subsolo, para árvores destruídas por doenças ou incêndios florestais, móveis velhos ou materiais da construção civil não utilizados. Se esses depósitos forem construídos em áreas de solo argiloso, o CO2 presente nesses troncos não voltará para a atmosfera

Embora a solução ajude no combate à crise climática, o professor Zeng destaca que medidas complementares são necessárias para impedir o aquecimento do planeta a taxas potencialmente perigosas. É preciso limitar o estágio atual de emissão de gases do efeito estufa, incluindo o carbono. Entre as medidas possíveis, está a transição energética, com a substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia.

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