Empresas de tecnologia ao redor do mundo continuam a enxugar suas equipes e eliminar posições de trabalho, provocando uma redução nas vagas disponíveis no setor.

Em 2024, mais de 139 mil empregos foram cortados em 457 companhias estrangeiras, segundo dados de outubro da plataforma Layoffs.fyi.

Empresas de grande porte como Tesla, Amazon, Google, TikTok, Samsung, Snap e Microsoft realizaram demissões em suas equipes ao longo do ano.


Entre no Canal do WhatsApp do e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.

A Cisco Systems, por exemplo, anunciou em agosto a demissão de 7% de seus funcionários, parte de um segundo ciclo de cortes em 2024, enquanto a Intel cortou 15% de sua força de trabalho global, o que representa cerca de 15 mil empregos.

O movimento ocorre em meio a incertezas econômicas, avanço da inteligência artificial e mudanças no quadro de funcionários após a pandemia. Essas transformações vão além do setor de tecnologia, impactando também indústrias como a financeira, de mídia e de manufatura.

Demissões na área de tecnologia

Os motivos para essa onda de demissões no setor de tecnologia são diversos. Entre eles estão a inflação e taxas de juros elevadas, que têm impactado o custo do crédito e restringido os investimentos.

Nos Estados Unidos, as empresas de tecnologia, que por anos se beneficiaram de um ambiente de taxas de juros baixas e abundância de capital, agora redirecionam seus recursos para pagar dívidas, resultando em cortes de custos, inclusive na força de trabalho.

Homem adulto com roupa social sentado ao lado de uma caixa com pertences da mesa de trabalho
Cerca de 140 mil empregos foram cortados ao longo de 2024 no setor de tecnologia (Imagem: Drazen Zigic/Freepik)

Outro fator relevante é o temor de uma recessão. Empresas estão se preparando para cenários econômicos incertos, influenciados por questões geopolíticas, como o conflito na Ucrânia e tensões no Oriente Médio, além das repercussões econômicas da pandemia.

Papel da IA na substituição de vagas

A inteligência artificial também desempenha um papel central na reestruturação do mercado de trabalho. Cerca de 40% dos líderes empresariais entrevistados pela ResumeBuilder, no início de 2024, afirmaram que planejavam demitir funcionários, ao longo do ano, à medida que substituíam suas funções por soluções baseadas em IA.

Empresas como IBM, Dropbox e Google já anunciaram cortes relacionados ao uso de IA. No caso da IBM, 3,9 mil empregos nos setores de marketing e comunicação foram dispensados, com a empresa congelando contratações para cargos que poderiam ser automatizados.

Excesso de contratações na pandemia

Além disso, as empresas de tecnologia estão corrigindo os excessos de contratações ocorridos durante a pandemia. Durante esse período, houve uma grande demanda por serviços digitais, o que levou as companhias a aumentarem suas equipes de maneira exagerada.

Empresas como a Meta quase dobraram seus quadros de funcionários, apenas para perceber posteriormente que estavam superdimensionadas à medida que a economia global se normalizava. Esse ajuste está resultando em uma nova onda de demissões, com as empresas buscando equilibrar suas operações.

Mão de obra terceirizada

Outro fator de pressão sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos é o aumento da terceirização para países como os da América Latina e Europa Oriental, onde a mão de obra qualificada pode ser contratada por custos significativamente menores.

Isso agrava a situação para os trabalhadores norte-americanos, que enfrentam não apenas a ameaça da automação, mas também a competição com uma força de trabalho global cada vez mais qualificada e acessível.

Cenário do mercado brasileiro de tecnologia

O mercado de tecnologia no Brasil reflete tendências globais, mas com especificidades locais. Nos últimos anos, houve um crescimento acelerado impulsionado pela digitalização de negócios e o aumento do e-commerce durante a pandemia.

Agora, a busca por otimização e eficiência tem levado empresas brasileiras a ajustar suas equipes de tecnologia.

Uma mulher de óculos olha para a tela do computador enquanto segura uma xícara de café
Brasileiros já sentem efeito de ajustes nas empresas de tecnologia (Imagem: Drazen Zigic/Freepik)

O especialista em inovação e avaliador de empreendedorismo Fernando Seabra observa que algumas companhias começaram a reavaliar suas estruturas de TI.

“Algumas empresas brasileiras começaram a ajustar suas equipes de tecnologia, em linha com o que acontece em outros mercados”, afirmou em entrevista exclusiva ao .

Seabra destaca que esse ajuste não significa uma retração no setor, mas sim uma busca por maior produtividade e especialização. “Há uma tendência a equilibrar melhor o tamanho das equipes com a real necessidade do momento.”

O COO da Alura Para Empresas, Adriano Almeida, concorda e complementa que essa desaceleração é, na verdade, saudável para o mercado. Segundo ele, após um período de crescimento acelerado em 2021 e 2022, o setor começou a estabilizar em 2023.

“O mercado tech não está encolhendo, mas sim passando por uma desaceleração saudável“, observa Almeida.

O diretor de operações da Alura aponta que, apesar dos ajustes, a demanda por profissionais qualificados permanece alta. “As empresas seguem buscando talentos que possam acompanhar as inovações e agregar valor aos seus times.”

A CRO da Escola da Nuvem, Ana Letícia Lucca, acrescenta que embora o mercado brasileiro esteja seguindo algumas tendências globais, a desaceleração não é uniforme.

“No Brasil, ainda não vemos um ‘enxugamento’ expressivo em massa”, afirmou a executiva em conversa com o .

Ela explica que setores como computação em nuvem, cibersegurança e inteligência artificial continuam em expansão. “Empresas que passaram por uma expansão rápida durante a pandemia, como as do setor de e-commerce e fintechs, agora reavaliam suas estruturas de TI, buscando eficiência, o que pode resultar em uma pausa ou redução nas contratações.”

No entanto, ela reforça que não há uma queda generalizada na oferta de vagas, mas sim uma maior seleção em relação aos perfis contratados.

Impacto da IA no mercado de trabalho

Assim como no exterior, as soluções de inteligência artificial generativa também impactam o mercado de trabalho em tecnologia no Brasil.

Os especialistas entrevistados pelo concordam que a IA não substitui completamente os profissionais, mas altera as demandas de competências e promove uma reconfiguração das funções dentro das empresas.

Fernando Seabra comenta que, embora a IA tenha o potencial de substituir tarefas repetitivas, ela cria novas oportunidades para os profissionais que conseguem adaptar suas habilidades.

“A IA complementa a força de trabalho humana, aumentando a produtividade e eficiência”, diz Seabra, ressaltando que o desafio será a requalificação dos trabalhadores.

Moça sentada em uma cadeira de trabalho olha para a câmera enquanto a tela do computador mostra um gráfico de desempenho
Especialistas apontam a importância de adaptação dos profissionais frente às novas tecnologias (Imagem: Reprodução/Freepik)

Adriano Almeida também acredita que a IA traz grandes oportunidades para quem souber utilizá-la de forma estratégica. Ele enfatiza que a tecnologia está transformando as funções, mas não eliminando o papel humano.

“A inteligência artificial não substitui o ser humano, nem deve fazê-lo. Em vez disso, ela exige que os profissionais aprendam a utilizá-la para aumentar sua produtividade.”

Almeida aponta que a adaptação a essas novas ferramentas resulta em maior impacto na execução das tarefas e em resultados positivos para os negócios, o que é essencial para garantir empregabilidade e melhores salários.

“Observamos que aqueles com as habilidades necessárias se destacam no mercado, tornando-se mais empregáveis e, frequentemente, recebendo salários mais altos.”

Ana Letícia Lucca compartilha uma visão similar, destacando que a IA generativa pode automatizar tarefas simples, mas também cria novas demandas por profissionais capazes de gerenciar e integrar essas tecnologias aos processos empresariais.

“A inteligência artificial gera novas oportunidades de trabalho, especialmente para quem domina a integração de tecnologias de IA nos processos empresariais e consegue gerenciar as interfaces entre as máquinas e o trabalho humano”, afirmou a executiva. Ela enfatiza que, longe de substituir completamente os humanos, a IA exige uma reformulação nas competências e perfis de contratação.

Capacitação em tecnologia

A necessidade de adaptação às novas exigências do mercado de tecnologia é uma constante apontada pelos especialistas. Investir em qualificação continua sendo essencial, especialmente em um setor em rápida evolução, como o de tecnologia.

Fernando Seabra ressalta que, mesmo com os ajustes no mercado, a demanda por profissionais qualificados em áreas como inteligência artificial, segurança cibernética e desenvolvimento de software permanece alta. “Definitivamente vale a pena buscar qualificação na área de tecnologia”, declarou o especialista em inovação.

Ele destaca que o principal desafio será acompanhar as rápidas mudanças do setor e desenvolver habilidades em áreas emergentes. “Os desafios estão mais focados na capacidade de adaptação e atualização constante”, complementa.

Moço segura e olha para um tablet enquanto um grupo de pessoas aparece ao fundo em uma reunião de trabalho
Qualificação, competências comportamentais e adaptabilidade são essenciais para os profissionais de tecnologia (Imagem: Reprodução/Freepik)

Adriano Almeida reforça essa visão, afirmando que o mercado continua competitivo, mas a natureza das competências exigidas mudou. Ele destaca que um programador hoje precisa ir além do domínio de uma linguagem de programação.

“Um programador hoje não pode se limitar apenas ao domínio de uma linguagem de programação; é essencial entender como integrar essa linguagem com a inteligência artificial para aumentar a produtividade e eficiência”, exemplificou o COO da Alura Para Empresas.

Para ele, o aumento da complexidade traz desafios, mas também recompensas significativas. “Aqueles que desenvolvem essas habilidades se tornam mais ‘valiosos’ para o mercado, refletindo em um aumento salarial e melhores oportunidades profissionais.”

Ana Letícia Lucca também enxerga a qualificação como uma peça fundamental para o sucesso no setor de tecnologia. Ela observa que a transformação digital está longe de terminar, e profissionais qualificados terão um papel crucial na continuação dessa jornada.

“A transformação digital continua sendo uma força motriz no país. O grande diferencial será a capacidade de adaptação do profissional às novas demandas, como as habilidades ligadas à IA, análise de dados e à automação”, destacou Lucca.

Ana Letícia também reforça a necessidade de desenvolver não apenas habilidades técnicas, mas também requisitos comportamentais para se destacar em um mercado competitivo. “Profissionais que estiverem atentos a essas mudanças e dispostos a se atualizar terão boas chances de navegar pelas transformações do setor e garantir um futuro promissor”.

O consenso entre os especialistas é que, apesar dos desafios, o mercado brasileiro de tecnologia continua oferecendo oportunidades para aqueles que se mantêm atualizados e dispostos a aprender.

As mudanças trazidas pela IA, automação e digitalização modificam as demandas do mercado, mas profissionais qualificados e com flexibilidade para se adaptar estarão bem posicionados para aproveitar essas transformações.

Leia mais sobre mercado de trabalho em tecnologia:

  • IA aumenta carga de trabalho e reduz produtividade, mostra pesquisa
  • Metade dos brasileiros teme perder o trabalho para IA, segundo estudo
  • Trocar trabalho humano por IA não traz benefício econômico, diz estudo

Leia mais matérias no ItechNews .