Mesmo quando inicialmente um personagem parece ridículo, com nomes como Homem-Aranha e Homem-Formiga, aprendemos ao longo do tempo que é possível garimpar boas histórias por trás da primeira impressão.
Contudo, muitas das criações que chegaram aos quadrinhos nem sempre trouxeram uma bagagem, digamos, aceitável para o bom senso dos leitores.
Algumas dessas criaturas foram geradas justamente para serem polêmicas ou chocar, contudo parte delas simplesmente é resultado de mau gosto e falta de sensibilidade de seus autores.
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O reuniu aqui 11 dos personagens mais indecentes dos quadrinhos: um bocado nasceu para fazer rir, outros causaram constrangimento, muitos incomodaram — e todos promoveram algum nível de vergonha alheia.
1. Section 8
Bem, o escritor irlandês Garth Ennis é um poço de criatividade no quesito “personagens inadequados”, portanto, ele aparece aqui quatro vezes na sequência. Vale destacar que, diferente de outras propriedades que você vai ver mais abaixo, a intenção do roteirista sempre foi chocar e ironizar os heróis, com humor ácido e politicamente incorreto — algo que fazia um mínimo de sentido na época dos lançamentos, nos anos 90 da ultraviolência banalizada de Quentin Tarantino e Guy Ritchie.
O grupo de “heróis” Section 8, que aparecia nas páginas de Hitman, era um desastre por natureza: Six Pack, o líder, era um bêbado que batia nos outros com garrafas; Defenestrador tinha a tara de jogar os outros pela janela; Jean de Baton-Baton usava baguetes para surrar bandidos; Dogwelder (que nem lembro como era o nome em português, se alguém conseguir, por favor comente) soldava cães nas pessoas, entre outros.
2. The Pro
A trama girava em torno de uma prostituta que ganha superpoderes. E, em vez de salvar o dia como o Amigo da Vizinhança, a mãe solteira decidiu usar as novas habilidades para ganhar mais dinheiro e alimentar seu bebê. A ideia de Garth Ennis era tirar uma onda com os ícones da DC Comics.
Com vilões como O Substantivo e o Advérbio, a personagem era hilária e sua briga com os análogos da Liga da Justiça foi impagável — que o diga o Santo, que seria uma versão do Superman e “sofreu” nas mãos dela de um jeito, vamos dizer, lascivo. Vale destacar que essa HQ está na mira de Hollywood há algum tempo e pode, em breve, chegar às telonas ou telinhas.
3. Cara de C*
Todo mundo que já leu ou assistiu Preacher está ciente da existência de Eugene Root, filho do rígido xerife Root. Depois de passar maus bocados, com um crescimento cheio de rejeição e controle de seu pai, o rapaz, inspirado pelo suicídio de Kurt Cobain, tentou tirar a própria vida com uma arma de fogo.
Ele não conseguiu e passou o resto da trama deformado, com a aparência que lhe deu o nome. Uma das curiosidades adicionadas por Ennis aqui é que, com o passar do tempo, até era possível entender o “dialeto” expelido pelo que sobrou de sua boca — tanto é que em edições avançadas da HQ não havia mais “tradução” para suas “falas”.
4. Capitão Pátria
Assim com a equipe Section 8, todos os integrantes dos Sete, de The Boys, eram um poço de corrupção e mau exemplo — mais uma cortesia de Ennis. O líder do grupo, análogo do Superman, tinha destaque porque seu “bom-mocismo” contrastava ainda mais com toda sua crueldade.
Estupro, violência emocional e física, manipulação e cinismo. O Capitão Pátria reunia tudo o que você não gosta na humanidade — talvez até mais. E a maioria de seus colegas e personagens na revista original não ficava nada atrás.
5. Gin Genie
Essa heroína carregava bastante ironia e criticismo à sociedade, assim como todos os outros personagens criados para os grupos X-Force/X-Statix na fase de Peter Milligan e Mike Allred, no começo dos anos 2000.
Tudo bem que a ideia, assim como a de Ennis, era mostrar o lado falível e inconsequente dos chamados “defensores da humanidade, mas aqui a coisa também pegou mal entre muitos leitores e executivos da Marvel Comics. Gin Genie podia criar ondas sísmicas de acordo com a quantidade de álcool que ingeria — e gerava muita discórdia entre seus colegas, por conta de seu comportamento etílico.
6. Egg Fu
A partir daqui a coisa começa a ficar mais séria, porque, diferente dos personagens de Garth Ennis ou Milligan/Allred, essas foram criações que não nasceram para intencionalmente chocar ou questionar padrões em passagens irônicas. O mau gosto, falta de empatia e bom senso; racismo e discriminação, são apenas algumas das palavras que descrevem este e os demais abaixo.
Egg Fu foi criado em 1965, com sua primeira aparição em Wonder Woman #157. Ele é o típico estereótipo dos asiáticos caracterizados pelos ianques no período pós-Segunda Guerra Mundial, com sotaque e visual bastante ofensivos aos orientais. Como dá para notar, seu visual era risível e a ausência de braços o tornava praticamente inútil.
7. Ebony White
Embora Will Eisner tenha sido um grande mestre dos quadrinhos, as primeiras histórias de Spirit, nos anos 40, traziam uma tendência deplorável da indústria do entretenimento norte-americano. Era (e ainda é, de certa forma) comum vermos uma caracterização bastante pejorativa dos afro-americanos.
Ainda que tenha morrido em 2005 sem exatamente se desculpar por esse tipo de ilustração, Eisner, depois dos anos 60, decidiu mudar o visual de Ebony White. O ajudante do Spirit passou a ser visto como uma pessoa mais verossímil, mesmo que continuasse com um comportamento pouco inteligente.
8. Big Bertha
A ideia da criação de personagens com poderes inesperados era algo compreensível, entretanto, a Marvel Comics pisou na bola quando criou os Vingadores Centrais, nos anos 90. O Senhor Imortal até tinha uma habilidade interessante, que era a de… reviver depois de morto. Mas Big Bertha era simplesmente ofensiva.
Em seu estado “normal”, Ashley Crawford era uma sexy modelo. A mutante podia aumentar sua massa corporal até quase 300 quilos, ganhando, assim, mais força e resistência, entre outras “vantagens”. Mas ela ficava muito grande e gorda e sugeria um contraste de “belo” e “feio”, com uma “contraparte” que “pagava o preço” para ser mais poderosa. E o pior é que a heroína vomitava para voltar a ser magra — não precisa nem ir longe para dizer que isso se associava à bulimia.
9. Snowflame
Na época em que surgiu esse personagem, no final dos anos 80, os Estados Unidos promoviam uma campanha contra as drogas em todos os meios que pudessem — inclusive nos quadrinhos. Mas a ideia da DC Comics para dizer que entorpecentes não fazem bem foi… bastante duvidoso. O alvo era um cara que apareceu em The New Guardians #2 com superforça, resistência acima do comum e uma habilidade destruidora chamada de Blast Power.
Acontece que Snowflame, um ex-líder de traficantes, ganhava seus poderes quando… cheirava cocaína. Como se isso não bastasse, o vilão tinha bastante popularidade entre os jovens e, mesmo depois de seu fim na revista, continuou aparecendo em sites de histórias produzidas por fãs.
10. He-She
Este caso é extremamente ofensivo e foi criado em 1943, na revista Boy Comics #9. “A mais mortal das espécies é a fêmea! A mais forte das espécies é o macho! Combine-as com o instinto assassino e você terá o homicida mais astuto, cruel e diabólico de todos os tempos!”, dizia a apresentação do título.
Acho que nem precisamos comentar o quanto isso é errado.
11. Arisia
Os anos 1990 foram decadentes para os quadrinhos de super-heróis e uma das coisas que a Marvel e a DC faziam à exaustão era sexualizar várias de suas personagens, especialmente a Mulher-Maravilha e as mulheres dos X-Men. Arisia, dos Lanternas Verdes, é um caso emblemático.
Para se tornar uma “Lanterna Verde sexy”, seu visual foi remodelado para um uniforme com minissaia e poses sugestivas. O ápice do problema aconteceu quando ela, uma adolescente, usou seus poderes para mudar seu corpo, tornando-o como o de uma mulher adulta. Isso foi usado na trama para que ela conseguisse seduzir sua grande paixão, Hal Jordan.
Bom, como dá para notar, muita coisa feita no passado provavelmente não passou pelas discussões necessárias entre os criadores e a própria comunidade de leitores. Ainda bem que hoje em dia pelo menos boa parte das iniciativas extremas ou ofensivas pode ser barrada pela própria opinião da audiência.
E vale a recomendação: se só ri da “piada” é quem está contando, as pessoas que não estão se divertindo com isso talvez discordem que seja “apenas uma brincadeira” — é bem mais provável que elas se sintam ofendidas ou constrangidas, certo?
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