Na busca pelo seu próximo smartphone, tenha cautela ao ler sobre os aparelhos da Motorola, como o Moto G75 ou o Motorola Edge 50 Ultra. A fabricante adotou a postura de comunicar o chamado RAM Boost primeiro e a memória RAM depois, o que pode causar confusão na mente das pessoas. Tanto é assim que o Reclame Aqui registra queixas de clientes que se sentiram enganados.

A mudança ocorreu há mais de um ano: o RAM Boost tomou as páginas de produto da Motorola e a memória RAM se tornou uma nota de rodapé. A empresa reverteu a comunicação depois que o Tecnoblog entrou em contato para apurar o tema, em janeiro de 2025. Hoje em dia, algumas páginas trazem os dois valores – apesar de a empresa ainda valorizar a memória virtual em alguns materiais gráficos.

Qual a diferença entre RAM e RAM Boost?

Primeiro precisamos entender exatamente o que está acontecendo do ponto de vista técnico. Vamos aos conceitos básicos:

  • Memória RAM: um dos componentes mais importantes de um celular, este chip funciona como uma memória transitória para os cálculos realizados pelo processador. Portanto, quanto mais, melhor. Hoje em dia existem modelos com RAM de 16 GB, como o Xiaomi 15 Ultra.
  • RAM Boost: é uma função que leva em consideração software e hardware para explorar a chamada memória virtual. Aparelhos de outras marcas, como Galaxy A55 e Redmi Note 14 Pro, oferecem tecnologia similar. Com isso, o consumidor consegue um gás de processamento em tarefas mais complicadas, quando está com muitos apps abertos ou ao executar um jogo.
  • Cabe lembrar que os chips de RAM e de armazenamento são diferentes, e normalmente o primeiro é bem mais veloz.

Especialista recomenda transparência

Eu conversei com o especialista em direito do consumidor Christian Printes. O gerente jurídico do Idec entende que os clientes podem ser induzidos ao erro. “Existem indícios de propaganda enganosa porque falta informação clara em algumas páginas. O consumidor precisa disso para que possa fazer sua escolha de forma livre.”

Printes explica que uma nova tecnologia pode ser apontada como um diferencial pela fabricante, ”desde que explique de imediato como aquilo funciona”.

Hoje em dia, a prática comum no mercado é destacar a memória RAM dos aparelhos, e não o total obtido com uso opcional da memória virtual. A exceção fica por conta da Apple, que não revela essa especificação técnica nas páginas oficiais.

Motorola modifica páginas

A nossa equipe está em contato com a fabricante desde meados de janeiro. De lá para cá, a Motorola fez ajustes na maneira de informar o RAM Boost. Páginas de produtos que antes só davam destaque para essa função voltaram a explicitar o que era cada coisa.

“Estamos sempre abertos tanto a aprimorar a comunicação quanto ajustar lapsos que por vezes podem ocorrer. O interesse da Motorola é comunicar mais e melhor suas funcionalidades e diferenciais, como é o caso do RAM Boost, e a provocação desta matéria nos mostrou que, mesmo tendo a informação no anúncio, tínhamos oportunidade de aprimorar ainda mais a comunicação da funcionalidade no anúncio de alguns dos produtos, equacionando com o mesmo nível de informações disponível na comunicação que está nas páginas de nossos produtos premium.”

– Motorola em resposta ao TB

A empresa ressalta que possui uma função mais eficaz do que em aparelhos concorrentes porque ocupa menos espaço: 4 GB de RAM Boost consomem aproximadamente 1,3 GB de armazenamento interno, 8 GB ocupam 2,6 GB, e assim por diante. 

O RAM Boost na versão atual também conta com inteligência artificial para entender o quanto de memória virtual é necessária naquele momento e uso específico, “melhorando a usabilidade para os consumidores”.

Exclusivo: Motorola recebe críticas e muda forma de comunicar RAM Boost no Brasil