Foi concluído, neste ano, o estudo de um papiro escrito em grego que detalha a audiência judicial de um crime cometido há 1.900 anos nas províncias romanas da Judeia e da Arábia, durante o reinado do imperador Adriano. O monarca visitou a região entre os anos de 129 e 130 d.C., antes da Revolta de Barcoqueba (132 d.C.) e do crime em questão.
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O papiro contém um registro informal da audiência, que acusou várias pessoas do crime de forjar documentos sobre a venda e alforria de pessoas escravizadas de forma a escapar do fisco imperial — ou seja, o tesouro controlado pelo imperador.
Redescobrindo um crime milenar
O documento romano em questão foi descoberto em 1950, em uma das cavernas de Nahal Hever, no Deserto da Judeia. De início, no entanto, o documento foi classificado erroneamente como sendo nabateu, passando despercebido até 2014, quando a professora Hannah Cotton Paltiel, da Universidade Hebraica, o redescobriu. Ele foi rebatizado de Papiro de Cotton.
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Com mais de 133 linhas, ele é o mais longo texto em grego já achado no Deserto da Judeia. A cientista responsável, junto a seus colegas da Universidade de Viena, Academia Austríaca de Ciências e Universidade Hebraica, estudou o documento e descobriu anotações dos promotores de um julgamento presidido por oficiais romanos nas vésperas da Revolta de Barcoqueba (132 a 136 a.C.).
O papiro inclui também um esboço rápido de transcrição da audiência. A linguagem é vibrante e direta, com um promotor aconselhando outro na força das diversas evidências e fazendo estratégias para antecipar objeções.
Segundo os cientistas, a parte mais extraordinária do documento é essa mostra da parte preparatória de um julgamento no Império Romano. Fora o julgamento de Jesus, é o caso de corte melhor documentado da Judeia.
Os detalhes do papiro incluem falsificação, evasão fiscal e venda e alforria fraudulentas de pessoas escravizadas, com os principais réus sendo Gadalias e Saulos, acusados de corrupção.
O primeiro era filho de um notário e provavelmente cidadão romano, com histórico de violência, extorsão, falsificação e incitação à rebelião. Saulos teria sido seu colaborador, orquestrando as vendas falsas sem pagar as taxas romanas necessárias.
Falsificação e fraude fiscal eram crimes punidos severamente pela lei romana, incluindo trabalho pesado ou mesmo pena capital. O julgamento ocorreu entre duas grandes revoltas judaicas contra o domínio romano: a Revolta da Diáspora Judaica (115 – 117 d.C.) e a Revolta de Barcoqueba.
O documento implica Gadalias e Saulos em atividades rebeldes durante a visita de Adriano e cita Tineius Rufus, governador da Judeia quando do início da segunda revolta. Não há como saber se os indivíduos estavam realmente envolvidos em atividades de rebelião, mas é isso que o julgamento insinua.
A natureza dos crimes é curiosa, já que alforriar escravizados não parece ter sido um empreendimento particularmente lucrativo, mas o caso pode ter envolvido o tráfico humano ilícito ou o dever bíblico judaico de redimir judeus escravizados.
O documento, para a história, é importante por mostrar que as instituições romanas principais documentadas no Egito também eram aplicadas por todo o império: as transações privadas eram reguladas mesmo em regiões remotas.
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