Um escândalo envolvendo discos rígidos usados Seagate Exos vendidos como novos vem ganhando proporções globais desde janeiro. O caso, que inicialmente parecia isolado, já soma mais de 200 ocorrências confirmadas em países como Alemanha, Austrália, Tailândia e Japão, levantando questões sobre a segurança da cadeia de suprimentos de hardware e revendedores oficiais da marca.
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Uma investigação conduzida pela Heise, renomado veículo alemão especializado em tecnologia, aponta que os HDDs fraudados são provenientes de fazendas de mineração da criptomoeda Chia na China. Muitos desses discos teriam registrado entre 15.000 e 50.000 horas de uso prévio antes de serem manipulados para parecerem novos e reinseridos no mercado.
Embora a Seagate afirme que os produtos afetados não vieram de seus canais oficiais de distribuição, o escândalo levanta dúvidas sobre a confiabilidade do mercado de discos rígidos.
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De onde vieram os HDDs fraudulentos?
Para entender a origem dos discos rígidos fraudados, é preciso voltar a meados de 2021, quando a criptomoeda Chia ganhou destaque no mercado. Diferentemente de outras criptomoedas que dependem de poder computacional (proof of work) ou participação acionária (proof of stake), a Chia utilizava um modelo de “prova de espaço e tempo”, no qual os usuários “cultivavam” a criptomoeda alocando espaço não utilizado em discos rígidos.
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Essa abordagem provocou uma explosão na demanda por HDDs de alta capacidade, especialmente modelos empresariais e voltados para data centers com 10 TB ou mais — atualmente, a linha Exos da Seagate tem até 36 TB de capacidade. De acordo com a empresa de pesquisa Context, as vendas desses discos na Europa chegaram a aumentar 240% em comparação ao ano anterior. O boom foi tão intenso que fabricantes como Seagate e Western Digital tiveram que aumentar sua produção para atender à demanda.
No entanto, assim como ocorre com muitas criptomoedas, o entusiasmo em torno da Chia foi de curta duração. Com a queda no valor da moeda e o aumento da dificuldade de mineração, muitas fazendas de mineração na China se tornaram economicamente inviáveis e fecharam as portas. O resultado foi um excesso de HDDs usados no mercado, criando condições propícias para que indivíduos mal-intencionados revendessem esses discos como se fossem novos.
Como é possível fraudar HDDs?
A fraude nos HDDs Seagate Exos envolve a manipulação dos parâmetros SMART (Self-Monitoring, Analysis and Reporting Technology), um sistema de monitoramento integrado aos discos rígidos. Esses parâmetros registram diversas informações sobre o uso e a saúde do dispositivo, incluindo o número de horas de funcionamento, ciclos de inicialização e erros detectados.
Em condições normais, os valores SMART não podem ser alterados pelo usuário, servindo como um registro confiável do histórico de uso do disco. No entanto, os fraudadores encontraram maneiras de resetar esses valores, fazendo com que discos extensivamente utilizados aparentassem ser novos em folha.
A descoberta dos drives modificados foi possível graças ao uso de ferramentas mais avançadas, como o FARM (Field-Accessible Reliability Metrics). Esse sistema, desenvolvido pela própria Seagate, oferece informações mais detalhadas e difíceis de serem manipuladas sobre o histórico operacional do componente. Especialistas utilizaram o Smartmontools 7.4 com o comando “smartctl -l farm /dev/sda” para revelar discrepâncias entre os valores SMART aparentes e o verdadeiro desgaste dos HDDs.
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Aprenda a identificar HDDs fraudados
Identificar um HDD fraudado não é tão simples, mas há alguns sinais para ficar atento. Um dos primeiros indícios é o ruído excessivo durante a operação, que pode indicar desgaste mecânico incompatível com um disco novo. Outro sinal é a performance abaixo do esperado, especialmente em workloads maiores de leitura e gravação.
Para uma verificação mais aprofundada, os usuários podem recorrer a ferramentas especializadas. O Smartmontools, mencionado anteriormente, é uma opção gratuita e de código aberto disponível para Windows, Linux e macOS. Ele permite acessar informações detalhadas sobre o disco, incluindo os valores FARM que podem revelar o verdadeiro histórico de uso.
Outra ferramenta recomendada é o SeaTools, desenvolvido pela própria Seagate. Disponível gratuitamente no site do fabricante, ele oferece uma interface mais amigável e realiza uma série de testes para avaliar a saúde e o desempenho do disco rígido.
Caso as ferramentas apontem que o HDD comprado como novo é, na verdade, usado, o usuário tem de entrar em contato com o vendedor ou varejista para solicitar a troca ou reembolso. Se o problema não for resolvido, é importante registrar uma reclamação junto aos órgãos de defesa do consumidor. Adicionalmente, a Seagate solicita que casos suspeitos sejam reportados diretamente à empresa através do e-mail [email protected], para auxiliar nas investigações internas.
O que diz a Seagate sobre o caso?
Em comunicado oficial, a Seagate afirmou que está levando o caso a sério e conduzindo uma investigação interna minuciosa. Apesar disso, a companhia disse que não vendeu ou distribuiu esses drives para revendedores, sugerindo que eles podem ter sido originalmente vendidos como novos para clientes que posteriormente os revenderam no mercado de usados.
Para mitigar futuros incidentes, a fabricante recomenda que revendedores adquiram drives apenas de parceiros de distribuição autorizados. Ela também destacou que tem processos internos para investigar casos assim, com equipes trabalhando proativamente junto aos revendedores para tomar medidas corretivas quando necessário.
Além disso, a Seagate afirma que sua equipe de segurança colabora regularmente com autoridades locais para tomar as ações necessárias.
Como medida adicional, a companhia disponibilizou uma ferramenta online para verificação de garantia, permitindo que os usuários confirmem a autenticidade e o status de garantia de seus produtos.
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