Não é todo dia que uma música de um período do qual pouco se sabe surge nas margens de um livro — mas hoje é desses dias, já que uma partitura do século XVI, na Escócia, com 55 notas, foi encontrada junto a uma coleção de orações antigas. Ao recriar a melodia, pesquisadores resgataram sons de uma cultura da qual nenhuma canção existe mais.
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O próprio livro que abriga a música é importante: é o Breviário de Aberdeen de 1510, uma coleção de orações, leituras e hinos que foi o primeiro tomo completo a ser impresso na Escócia. Agora, pesquisadores das universidades de Leuven e de Edimburgo analisaram o fragmento musical para trazê-lo de volta às bocas dos corais.
Música gospel perdida
A música, na verdade, foi identificada pela primeira vez nas margens literárias em 2011, mas descobrir como decifrá-la levou tempo. Inicialmente, foi possível relacioná-la a um canto cristão pouco conhecido, ainda cantado em igrejas anglicanas durante a Quaresma, chamado Cultor Dei, memento (em tradução livre: “Servo de Deus, lembre-se”).
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Não se sabia, no entanto, se as notas guiavam instrumentos ou um coral. Como a música possui uma equivalência moderna, foi possível reconstruir as partes faltantes — a partitura rabiscada na página em branco tem apenas o tenor da canção.
Não há título ou autoria nas páginas, mas os musicólogos responsáveis conseguiram notar que a composição é polifônica de duas linhas, ou seja, um tipo de música onde várias melodias são cantadas ou tocadas ao mesmo tempo. Com isso, foi possível recriar, com vozes, como teria sido a antiga melodia, que você pode ouvir neste link.
É uma das poucas músicas da época que sobreviveu até hoje, e a única do nordeste da Escócia. Por muito tempo, pensou-se que o país, antes da reforma protestante da igreja católica, não tinha música sagrada alguma, o que foi desmentido pela partitura.
A reforma protestante destruiu muitas das evidências religiosas anteriores, mas o trabalho demonstra que havia música de qualidade e uma tradição de culto forte — incluindo louvores de cantar, como o estudado — nas igrejas escocesas, assim como havia nos outros países europeus à época.
Os pesquisadores também estudaram as origens do livro, descobrindo ligações com a Catedral de Aberdeen e a Capela de Santa Maria, na cidade de Rattray. Agora, mais pistas musicais devem ser procuradas em textos semelhantes.
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