Um levantamento da Confederação Nacional de Transporte (CNT) revela que, cada vez mais, os brasileiros estão preferindo usar serviços como Uber e 99 para se locomover pelas cidades, em detrimento do transporte público. Essa realidade afeta principalmente o transporte por ônibus urbano.
A Pesquisa CNT de Mobilidade da População Urbana 2024, como é chamada, foi feita em parceria com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). O levantamento foi baseado em entrevistas com 3.117 pessoas de 319 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes.
Ônibus ainda são muito usados, mas perdem espaço
O resultado mostra que 30,9% dos entrevistados usam ônibus como meio de transporte principal. É um número expressivo, mas substancialmente menor em relação à edição anterior da pesquisa, realizada em 2017. Naquela época, o uso de ônibus foi registrado por 45,2% dos participantes.
Em contrapartida, o uso de serviços de transporte por aplicativo aumentou nesse comparativo. No levantamento de 2017, apenas 1% dos entrevistados revelou usar serviços como Uber e 99 regularmente. Na pesquisa de 2024, essa proporção aumentou para 11,1%.
Os números do levantamento atual sobre as modalidades usadas pelos entrevistados são estes:
- Ônibus (transporte público): 30,9%
- Carro próprio: 29,6%
- A pé: 21,6%
- Aplicativo de transporte (como Uber): 11,1%
- Moto própria: 10,9%
- Bicicleta própria: 6,5%
- Carona (incluindo serviços como BlaBlaCar): 4,4%
- Metrô: 4,2%
- Moto-táxi por aplicativo: 2,6%
- Trem urbano/metropolitano: 1,8%
- Ônibus de fretamento: 1,6%
- Transporte alternativo legalizado: 1,4%
- Transporte escolar: 0,6%
- Moto-táxi comum: 0,5%
- Táxi: 0,4%
- Outros: 0,7%
A própria CNT aponta que os serviços por aplicativo podem ter influenciado na queda de demanda pelo transporte público:
É possível que essa evolução [o aumento de usuários de transporte por apps] seja um dos fatores que contribuem para a substituição de um meio por outro, uma vez que, neste ano, 56,9% dos entrevistados confirmaram que deixaram de usar totalmente o ônibus (29,4%) ou diminuíram o uso (27,5%).
Não são apenas usuários com renda elevada que usufruem do transporte por aplicativo. A pesquisa aponta que 56,6% dos usuários dessa modalidade estão na classe C, enquanto 20,1% pertencem às classes D e E.
Rapidez é o principal motivo para o uso de apps
A pesquisa da CNT também revela que a maior rapidez da viagem é o principal motivo para o uso de transporte a partir de aplicativos. Mas há outras razões fortemente consideradas pelos entrevistados:
- Maior rapidez da viagem: 49%
- Flexibilidade de rotas e horários: 43,2%
- Maior conforto: 43%
- Facilidade de solicitar o serviço: 36%
- Menor preço: 23,2%
- Pontualidade: 20,5%
- Maior segurança: 18,4%
- Facilidade de pagamento: 16,9%
- Disponibilidade de informações sobre o serviço: 9,9%
- Melhor cobertura geográfica: 5,8%
- Frequência maior de viagens: 2,7%
Pesquisa diz mais sobre o transporte público do que sobre apps
Entre aqueles que ainda priorizam o transporte público (ônibus), 52,7% responderam que o fazem por essa ser a única opção de locomoção. 32,1% afirmaram que usam essa modalidade pelo menor custo em relação a outros meios de transporte.
Esses aspectos são um forte indício de que a priorização dos serviços por aplicativo é efeito das deficiências do transporte público. Essa percepção é reforçada com a constatação de que o carro próprio também é uma modalidade fortemente utilizada (29,6%).
Como usuário assíduo do transporte público de São Paulo (SP), onde moro, eu percebo essas deficiências com frequência. Na cidade, é comum problemas como:
- ônibus que não saem no horário previsto;
- longos intervalos entre um ônibus e outro;
- lotação excessiva, principalmente em horários de pico;
- veículos velhos ou com manutenção precária;
- ônibus que atrasam durante o trajeto por causa do trânsito intenso.
Esses problemas também são facilmente perceptíveis em outras cidades. Todos eles tornam o transporte público pouco prático ou confiável.
Se o transporte coletivo oferece baixa qualidade de serviço, é óbvio que os usuários darão preferência às modalidades de transporte individual que proporcionam melhores experiências.
Mas isso também tem consequências, como o aumento do número de automóveis em circulação, o que contribui para congestionamentos e a poluição do ar.
Brasileiros têm trocado ônibus por apps de transporte, mostra pesquisa