Em breve, os brasileiros vão contar com a função Origem Verificada, novo sistema da Anatel para identificar chamadas de empresas com nome, logo e o motivo da ligação, direto na tela do smartphone. No entanto, pelo menos 35 milhões de clientes da Claro estão impossibilitados de desfrutar desse benefício, que visa reduzir golpes e spam telefônico.
O Origem Verificada adota a tecnologia STIR/SHAKEN e RCD, protocolos que já estão em uso em países como Estados Unidos e Canadá. Grandes empresas, como bancos e lojas, irão adotar o sistema que garante a autenticidade das ligações deve evitar golpes telefônicos. Com o selo de verificação, os usuários passarão a ter maior confiabilidade na hora de atender ligações.
Quando a Anatel divulgou a adoção do Origem Verificada, informou que o identificador de chamada aprimorado estaria disponível apenas nas redes 4G ou superior. Mas não basta que o smartphone esteja com sinal 4G para receber o identificador aprimorado.
A área técnica da Anatel confirmou ao Tecnoblog que o funcionamento do Origem Verificada exige que o usuário de destino esteja conectado em uma rede 4G ou 5G com o VoLTE habilitado.
Preste atenção nessa última sigla: VoLTE. Trata-se de uma tecnologia que permite fazer chamadas de voz utilizando redes 4G. O VoLTE é necessário para o funcionamento dos protocolos de identificação aprimorado, próprios para utilização em redes puramente digitais.
O VoLTE é um grande calcanhar de Aquiles na rede da Claro, que limita a função para clientes do pós-pago. Enquanto isso, outras operadoras oferecem a tecnologia em toda a cobertura, sem distinção por tipo de plano.
Quais clientes da Claro ficarão sem Origem Verificada?
O Tecnoblog procurou a Claro para esclarecer a base de clientes atendidas pela tecnologia VoLTE e quando as chamadas por 4G serão ativadas para todos os usuários. No entanto, a operadora não respondeu no prazo solicitado.
Em seu site, a operadora menciona a tecnologia somente no portal de roaming internacional e nos manuais de usuário de smartphones, e informa que a função está disponível apenas para clientes com plano pós-pago.
Considerando que a Claro libera a tecnologia VoLTE apenas para clientes com plano pós-pago puro, boa parte dos clientes ficarão sem a novidade da Anatel.
De acordo com dados da Anatel relativos ao mês de setembro de 2024, a Claro tem 88,2 milhões de clientes. Desse montante, 35,03 milhões de linhas são contratos do pré-pago, que não tem acesso à tecnologia VoLTE.
Ao menos 39,7% dos clientes da Claro não são elegíveis para utilizar o identificador inteligente da Anatel. Na prática, a porcentagem é bem maior: a base do pós-pago também inclui contratos do tipo controle e Claro Flex, que não possuem acesso à tecnologia VoLTE.
Os dados por categoria não são divulgados pela Claro (e por nenhuma operadora brasileira). É possível assumir que os planos controle e Flex têm parcela significativa entre a base de clientes da operadora, devido ao custo menor: enquanto o pós-pago puro mais barato custa mais de R$ 100 por mês, o Claro Flex básico custa R$ 39,90 mensais.
O que é a tecnologia VoLTE exigida pelo Origem Verificada?
A tecnologia 4G foi desenvolvida pensando apenas na conectividade de dados. Quando começou a ser implementada no Brasil e no mundo, os smartphones continuavam dependendo das redes 3G ou 2G para fazer chamadas tradicionais.
A solução para permitir chamadas no 4G veio depois, com o surgimento da tecnologia VoLTE, que permite a utilização do serviço de voz tradicional utilizando dados. O padrão também traz outras vantagens, como maior qualidade de ligação (chamada HD) e menor espera para completar a chamada.
No Brasil, o VoLTE começou a ser ativado em 2017 pela TIM e Vivo. A Claro se atrasou na festa e começou a liberar o VoLTE apenas em 2019, exclusivo para clientes com plano pós-pago em duas cidades brasileiras — na mesma época, a TIM somava 2 mil municípios aptos para a chamada com 4G.
Estamos no fim de 2024, e as operadoras TIM e Vivo já expandiram a utilização do VoLTE para toda sua área de atuação, sem exigir planos específicos. Na Claro, essa ainda é uma realidade distante para muitos dos seus clientes.
Claro: milhões de clientes ficam sem novo sistema contra golpes telefônicos